Shinobi Keiko kai no Correio Braziliense

Foi publicado no Correio Braziliense de terça-feira, 01 de abril de 2014, uma reportagem sobre Defesa Pessoal onde foram entrevistados professores do Sistema Shinobi Keiko kai. A reportagem pode ser lida no link: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2014/04/01/interna_ciencia_saude,420558/tecnicas-de-defesa-pessoal-orientam-as-pessoas-a-manterem-a-tranquilidade.shtml


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Para se sentir mais seguro

Técnicas de defesa pessoal orientam as pessoas a manterem a tranqulidade e a agirem da melhor forma para se protegerem em situações de violência. Os treinos, contam os alunos, tornam a vida na cidade menos ameaçadora

Publicação: 01/04/2014 04:00

Agir, só quando for realmente preciso. E com o objetivo não de derrotar um adversário, mas de sair vivo e ileso de uma situação de perigo. Assim pode ser resumida a filosofia por trás das técnicas de defesa pessoal, práticas cada vez mais procuradas por pessoas que não buscam o confronto com outras pessoas, mas uma sensação maior de segurança em meio a índices cada vez maiores de violência nas cidades.

Apesar de incorporar alguns movimentos e golpes das artes marciais de competição, os métodos de defesa priorizam sempre a segurança do praticante. E isso pode significar ter a calma para avaliar a situação e optar por não agir. O trabalho emocional, portanto, é crucial. “A competição de quem faz defesa pessoal é com ele mesmo, contra as próprias reações e limitações”, resume o sensei Renan Zerbini, que dá aulas de uma técnica criada por ele mesmo, o shinobi keiko kai.

Nas aulas, que são ministradas da mesma forma a todos os alunos, independentemente de grau de instrução, sexo ou idade, o foco é o equilíbrio entre mente e corpo. “Se você consegue se manter tranquilo em situações de estresse, é capaz de pensar em opções melhores do que simplesmente o embate físico. E é isso que tentamos ensinar aos alunos: que sempre existem alternativas para a força e a agressividade”, explica.

Engenheiro agrônomo, Zerbini ensina a técnica de defesa por hobby. As técnicas apresentadas por ele, na verdade, são resultado de um apanhado feito em diversas artes marciais. “Sempre pratiquei luta, mas percebia que faltava um pouco de objetivo, já que a ideia não era ser um esportista de competição. Foi, então, que eu comecei a criar a modalidade shinobi keiko kai, unindo técnicas que de fato poderiam ser utilizadas em situações cotidianas”, esclarece.

O bacharel em direito Felipe Della Giustina, 25 anos, acompanha o sensei desde 2002. Hoje, ele é faixa preta do segundo dan (veja glossário), o que o permite trabalhar como instrutor na primeira parte da aula, hora do aquecimento e da execução de movimentos mais básicos. “Meu interesse sempre foi aprender a me defender. Mas encontrei na defesa pessoal um equilíbrio psicológico que eu jamais havia experimentado. Eu era um garoto muito agitado”, conta.

Morador do Park Way, Felipe sempre teve de percorrer um longo caminho de casa até a academia. A distância, porém, nunca o fez desanimar. “Eu já havia feito outras artes marciais, como judô e MMA, e sabia dos benefícios que essas práticas traziam tanto para o meu desenvolvimento físico quanto para o psicológico. Por isso, sempre bati o pé e cheguei aonde cheguei aqui dentro”, garante. Hoje em dia, o jovem considera o aprendizado adquirido nas aulas de defesa pessoal como determinante para a construção de sua personalidade.

O psicólogo Renato Miranda é instrutor em Brasília de uma modalidade denominada kombato, ensinada a militares da Marinha e da Aeronáutica, assim como funcionários das áreas de segurança das maiores empresas do país. “Além de aparelhar tecnicamente o cidadão para defender a si mesmo e seus entes queridos, nós também o preparamos psicologicamente. Ao conhecer os reais riscos aos quais está exposto e as formas de lidar com eles, a pessoa não só diminui a probabilidade de se tornar uma vítima, mas também de agir como um agressor”, explica. Isso, na opinião de Miranda, colabora com a formação de indivíduos conscientes e comprometidos.

Para ele, o principal benefício da prática de defesa pessoal, em comparação a artes marciais tradicionais, é a possibilidade de adquirir uma visão concreta e um treinamento funcional voltado especificamente para a realidade. “Claro que treinos mais tradicionais ou lúdicos têm sua validade, mas, quando se lida com uma ameaça real, é preciso saber exatamente o que funciona e o que não funciona, pois o que está em jogo é sua vida e de seus entes queridos”, avalia. Outro aspecto importante são as considerações legais, sempre estimuladas no aluno para que ele não passe de vítima a agressor por um simples excesso.


Felipe (D) pratica o shinobi keiko kai com Renan desde 2002: Encontrei um equilíbrio psicológico que eu jamais havia experimentado



De Israel para o mundo

Uma das técnicas de defesa mais conhecidas no mundo é o krav maga, desenvolvido em meados dos anos 1930 por Imi Lichtendfeld. Habitante de Bratislava, a capital da Eslováquia, ele unificou uma série de métodos para ensinar os habitantes do bairro judeu onde morava a se protegerem de ataques antissemitas, que se tornavam cada vez mais frequentes na época.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Lichtendfeld mudou-se para a Palestina, onde começou a fornecer treinamento de combate corpo a corpo para o grupo que se tornaria as Forças de Defesa do Estado de Israel, fundado em 1948. Nessa época, ele treinou 13 mestres que foram encarregados de espalhar a modalidade, que ganhou o mundo. O krav maga chegou ao Brasil em 1990, quando o mestre Kobi Lichtenstein desembarcou no Rio de Janeiro para a criação da primeira academia da América do Sul.

Hoje instrutora-chefe da técnica no Distrito Federal, Vanessa Ribeiro foi uma das alunas de Lichtenstein. “Eu me apaixonei imediatamente pela simplicidade e ciência da técnica. No Rio, naquela época, a situação da segurança pública era até pior do que a atual. Quando eu descobri a liberdade e a tranquilidade de me sentir segura, sem depender de mais ninguém, decidi que era aquilo que eu queria fazer para a vida toda”, conta Vanessa, que chegou a se formar em krav maga na Universidade de Winget, em Israel, antes de ser enviada a Brasília para difundir o método.

Para ela, a defesa pessoal, se ensinada à sociedade civil de maneira correta, pode contribuir para a queda dos índices de violência. “Isso se dá por dois motivos. Primeiro, porque estimula o comportamento defensivo, que ajuda o aluno a agir de modo a não se tornar uma vítima fácil. Em segundo, o krav maga dá o poder de escolha: se ele quer ou não estar ali”, aponta a primeira mestre do método de toda a Região Centro-Oeste.

A administradora Taísa Guimarães, 36 anos, pratica a defesa desde abril de 2009. Após ser assaltada por um casal armado, ela resolveu fazer uma aula experimental. “Eu me apaixonei pelo treino e comecei a praticar”, conta. “Hoje, eu me sinto muito mais segura. Não me coloco mais em situações de risco, e o meu condicionamento físico melhorou bastante. A minha postura perante as situações da vida, quaisquer que sejam, também melhorou. Sou mais firme em minhas palavras e atitudes”, conta.

Taísa concorda que o krav maga tem o potencial de reduzir a violência nas cidades. “Acho que pode contribuir por ensinar como evitar confusão, briga, atrito, ou por simplesmente tornar o aluno uma pessoa mais controlada e calma. Até porque o praticante sabe que se, ele decidir reagir, em último caso, o agressor sofrerá graves danos físicos”, diz.

Glossário

Dan
É a denominação de cada um dos graus de maestria atribuídos a alguém no sistema de avaliação Dan-i, criado por Honinbo Dosaku (1645–1702) para o jogo Go e que depois foi adaptado para as artes marciais japonesas por Jigoro Kano. Neste último, atingir o nível de dan significa ultrapassar os níveis mais básicos de aprendizado. A partir daí, o praticante começa a usar um distintivo, geralmente um cinturão preto. Em algumas escolas, o portador do primeiro dan pode se tornar instrutor

Dojo
É o local onde se treinam artes marciais japonesas. Muito mais do que uma simples área, o dojo deve ser respeitado como se fosse a casa dos praticantes. Por isso, é comum fazer uma reverência antes de entrar no lugar, tal como se faz nos lares japoneses

Sensei
Palavra japonesa que pode ser traduzida como professor. Literalmente, significa “aquele que veio antes”. A expressão é usada por alunos de artes marciais para se referirem ao seu mestre



CorreioWeb
Publicação: 01/04/2014 04:00
http://impresso.correioweb.com.br/app/noticia/cadernos/saber-viver/2014/04/01/interna_saberviver,122319/para-se-sentir-mais-seguro.shtml

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